22 novembro 2006

Cheiro de quê?

Minha vida sempre foi marcada por diferentes cheiros. Os cheiros me fazem me lembrar de épocas - vividas ou sonhadas, de lugares, objetos, comidas, e é claro, de pessoas. Tenho o olfato muito bom e talvez por isso os cheiros sejam tão importantes.
Vou listar alguns cheiros que gosto de sentir e que fazem com que eu me lembre de fases da minha vida, ou não:
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: dama- da- noite - ou pirulito (muita gente sabe do que eu estou falando!);

: livros, revistas, cadernos - todos novos;
: livros velhos com um cherinho adocicado;
: churrasco;
: maçã-verde;
: yakult;
: chuva;
: sala de aula;
: festa junina;
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Quem me conhece um pouco sabe que cheiro e gosto são muito importantes pra mim e que esses são só alguns dos cheiros que gosto.
Gosto e cheiro se confundem quando falamos de comida. Cheiros são lembranças e espero sempre ter esse sentido tão fantástico que é o olfato, que junto com o paladar se tornam um dupla imbatível!
E por último e não menos importante, o cheiro das pessoas também é muito importante. E não falo de perfumes e sim do cheiro natural - pra não fugir do clichê....Pessoas que são e que foram importantes pra mim sempre deixarão o cheiro em minha memória (olfativa...rs)

07 novembro 2006

Horário de verão


Hoje começa o horário de verão e me lembro muito bem desse dia no ano passado quando eu cismei que devíamos atrasar o relógio em uma hora ao invés de adiantar. Putz! Esse dia foi muito engraçado porque Mariana e eu fomos pro postinho tomar umas e já eram altas horas da noite....no nosso relógio marcava duas horas mas já eram 4 horas da manhã! Por isso estranhamos quando vimos a rua deserta em pleno sábado! Voltamos pra casa e fomos dormir ainda achando muito estranho aquela sensação de cidade fantasma. No domingo continuamos com a nossa confusão - talvez se assistíssemos mais tv saberíamos que horas eram - fomos almoçar num restaurante e já eram 2 horas da tarde e já não tinha quase nada no self service e nós - principalmente eu - ficávamos pondo a culpa no horário falando que as pessoas provavelmente estariam deixando pra se adaptar ao horário na segunda-feira.....nem me lembro quando nos demos conta da confusão que fizemos...esse dia foi inesquecível...acho que vou me lembrar disso sempre que for mudar para o horário de verão....ou voltar para o horário
normal....

01 novembro 2006

A de sempre
(Carlos Drummond de Andrade)


— Até beber cerveja ficou difícil — queixa-se.

— O preço?

— Não. A variedade. O embaras du choix.

— Mas se você já estava acostumado com uma...

— E as novas que aparecem? Em cada Estado surge uma fábrica, se não surgem duas. Cada qual oferecendo diversas qualidades. Você senta no bar de sua eleição, um velho bar onde até as cadeiras conhecem o seu corpo, a sua maneira de sentar e de beber. Pede uma cervejinha, simplesmente. Não precisa dizer o nome. Aquela que há anos o garçom lhe traz sem necessidade de perguntar, pois há anos você optou por uma das duas marcas tradicionais, e daí não sai. Bem, você pede a cervejinha inominada, e o garçom não se mexe. Fica olhando pra sua cara, à espera de definição. Você olha para cara dele, como quem diz: Quê que há, rapaz? Então ele emite um som: Qual? Você pensa que não ouviu direito, franze a testa, num esforço de captação: qual o quê? Qual a marca, doutor? Temos essa, aquela, aquela outra, mais outra, e outra, e outras mais. . Desfia o rosário, e você de boca aberta: Como? Ele está pensando que eu vou beber elas todas? Acha que sou principiante em busca de aventura? Quer me gozar? Nada disso. O garçom explica, meio encabulado, que a casa dispõe de 12 marcas de cerveja nacional, fora as estrangeiras, sofisticadas, e ele tem ordem de cantar os nomes pra freguesia. Até pra mim, Leovigil? pergunto. Bem, o patrão disse que eu tenho de oferecer as marcas pra todo mundo, as novas cervejas têm de ser promovidas. Não mandou abrir exceção pra ninguém, eu é que, em atenção ao doutor, fiquei calado, esperando a dica... Não quis forçar a barra, desculpe.

— E aí?

— Aí eu disse que não havia o que desculpar, ordens são ordens e eu não sou de infringir regulamentos. Os regulamentos é que infringem a minha paz, freqüentemente. Mas para não dar o braço a torcer, nem me declarar vencido pela competição das cervejas, concluí: Leovigil, traga a de sempre.

— Não quis dizer o nome?

— Não. Minha marca de cerveja — "minha garrafa", digamos assim, pois a individualidade começa pela garrafa — passou a chamar-se "a de sempre". Não gosto de mudar as estruturas sem justa causa, nem me interessa dançar de provador de cerveja, entende?

— Mas que custa experimentar, homem de Deus?

— Só por experimentar, acho frívolo. Os moços, sim, não encontraram ainda sua definição, em matéria de cerveja e de entendimento do mundo. Saltam de uma para outra fruição, tomam pileques de ideologias coloridas, do vermelho ao negro, passando pelo róseo, pelo alaranjado e pelo furta-cor. Mas depois de certa idade, e de certa experiência de bebedor, você já sabe o que quer, ou antes, o que não quer. Principalmente o que não quer. E é isso que os outros querem que você queira. Tá compreendendo?

— Mais ou menos.

— Na verdade, não há muitas espécies de cerveja, no mundo das idéias. Mas os rótulos perturbam. Uns aparecem com mulher nua, insinuando que o gosto é mais capitoso. Bem, até agora não vi rótulo de cerveja mostrando mulher com tudo de fora, mas deve haver. Mulher se oferecendo está em tudo que é produto industrial, por que não estaria nos sistemas de organização social, como bonificação?

— Você está divagando.

— Estou. Divagar é uma forma de transformar pensamentos em nuvem ou em fumaça de cigarro, fazendo com que eles circulem por aí.

— Ou se percam.

— E se percam. Exatamente. 0 importante não é beber cerveja, é ter a ilusão de que nossa cerveja é a única que presta.

Sujeito mais conservador! Ou sábio, quem sabe?


Texto extraído do livro “De notícias & não notícias faz-se a crônica”, Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1974, pág. 137.

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